A dançarina esquecida Consuela Harris, e as origens do rock n’ roll

Não há praticamente nada a respeito dela na internet, nem mesmo nos sites do seu próprio país de origem. No Brasil menos ainda. Mas ao ver, por acaso um vídeo curto no Instagram da sua performance num filme de 1938, intitulado “Swing”, de Oscar Micheaux, senti a necessidade de ao menos deixar registrado em língua portuguesa um pouco sobre essa dançarina da era pré rock n roll, e esperar que algum historiador ou jornalista brasileiro se aprofunde sobre sua trajetória.

Na era do jazz e das big bands, entre as décadas de 30 e 50, tivemos um ritmo dentro do segmento jazzístico que, executado em alta velocidade, lembra o rock n roll de Chuck Berry e Little Richard. Conhecido como Swing, tinha como características, além da questão da agilidade do tempo, a figura do solista, e da dança. Esse ritmo gerou posteriormente o bebop e o jump blues, que logo depois evoluíram para o som das pedras que rolam.

A dançarina em questão se chama Consuela Harris. A falta de informações a seu respeito é tão gritante que, não existe nem mesmo consenso quanto ao seu primeiro nome. Em alguns lugares é escrito como Consuela e em outros como Consuelo. No Wikipédia, há apenas o vazio. Consta que ela participou de 3 filmes, a saber: “Swing – 1938”, “Filhos de Deus – 1938” e “Harlem On The Prairie – ?”.

Eu não sou dançarino. Não saberia fazer uma crítica, descrever e abordar sobre técnicas de dança, performance corporal, ou coisas do tipo. Sou apenas um músico e gosto de escrever. Mas não é necessário ser um profissional na arte do bailado para apreciar e se encantar com a apresentação de Consuela Harris, levando em consideração outros fatores que estão embutidos ali.

Estamos falando do século passado, onde reinava o conservadorismo institucional, em todos os seus níveis, matizes, segregação racial, e misturados a crise econômica, resultado do crash de 1929 que ainda influenciava a vida dos estadunidenses, a subida do nazismo ao poder, e da Segunda Guerra Mundial. Agora imagine tudo isso acontecendo ao mesmo tempo, e uma pessoa qualquer nascida e vivida nessa mesma época, ligar a TV ou ir ao cinema e se deparar com essa cena abaixo. Só pra se ter uma noção, para aqueles que ainda não compreenderam aonde quero chegar: duas décadas depois, Elvis Presley era censurado e obrigado a não dançar em seus shows, e as TVs recebendo ordens para que não filmassem as suas pernas, pois segundo a opinião vigente da sociedade, tudo aquilo era obscenidade.